quinta-feira, 14 de junho de 2012

Conto I


Título: Conto I
Autor: Giovanna Magda [Facebook]
Gênero: Drama
Classificação: G, 10 anos
Sinopse: "Estava selado, assim, o dilema de morte no meu coração."
Observação: Mais um texto da Giovanna. 



Antes de entregar-me por inteiro ao descanso eterno, permaneci ali, ajoelhado, alimentando-me das últimas lembranças marcadas em meu coração – e na falha memória.

Trocávamos cartas o tempo inteiro, durante dez anos. Como morávamos longe um do outro – a quantidade de selos serve de prova - o dinheiro mensal saía do bolso com uma tristeza amarga, que se convertia em entusiasmo ao imaginar o rosto angelical do destinatário.
Então veio a tal carta.

Querido Darci,

Sei que o desejo do nosso encontro é recíproco, assim como a dificuldade de tal evento. Porém o azar tornou-se sorte. Cursarei Direito na tua cidade, o Rio de Janeiro. Finalmente, meu amado, o Sol sorrirá ao admirar o ato do nosso amor. Estarei à sua espera amanhã, na estação de trem.

                                                     Um abraço, um beijo, um sorriso ardente,

                                                                                  Elizabete.

E as lágrimas que antes transpareciam tristeza, revelaram-se alegria em imaginá-la em meus braços, drogando-me com aqueles longos cachos ruivos impregnados de lavanda – como revelara em fios do cabelo, fotos e versos de poesia - inundando-lhe de agrados e mimos, e concretizando aquilo que chamávamos amor.
Então chegou o tal dia.
A belíssima jovem sorria e acenava freneticamente na direção da plataforma em que me encontrava. O broche que eu dera em seu vigésimo sétimo aniversário estava pendurado debaixo do laço preto do vestido. Tão angelical, tão inocente, aquela cena trasbordava-me a garganta.
- Elizabete! Elizabete! Estou aqui, meu amor!
- Darci! – soluçava durante gritos – João Darci! Eu te vejo!
Corremos na direção do outro. As plataformas eram separadas pelos trilhos e as pessoas dificultavam nossa jornada, porém nada nos tirava o foco.
Então chegou o tal trem.
E no mesmo minuto que construiu um mundo novo na minha cabeça, Elizabete desprendeu-se da carapaça para sempre. Ali, diante dos meus olhos e da minha santa ilusão. Estava selado, assim, o dilema de morte no meu coração.

2 comentários:

Anônimo disse...

Que forte!

Derek Matthews disse...

Eu gostei da forma como foi o conto foi escrito, uma descrição poética do sentimento, sentimento esse que superou a distância, superou o tempo pela crença de um amor verdadeiro. Uma volta no tempo em que tudo era mais simples, gentil. Uma definição de amor que já não se vê nos dias atuais, um amor que não é feito de contato, mas sim de sentimento.
Adoro ler um texto bem escrito :)

 

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