Foi tão rápido vê-lo passar.
Ainda que meu ponto fraco, ou atração, como queiram chamar, não fosse homens com barba, mas aquele homem era ideal, num estilo não tão desleixado e nem muito arrumado, rosto quadricular, olhos castanhos, cabelo curto preto, devia ter seus 20 anos. Quando passamos um ao lado do outro, nos entreolhamos. Ele soltou apenas um: -Bom dia, moça.
(Tendo o meu dia contado apenas até o olhar, o classificaria, realmente, como um bom dia.)
Continuou a seguir o trajeto contrário em que eu vinha, meus olhos perdidamente o guiou, já meu corpo estava aguardando a gravidade agir.
E quando este estava por agir, questão de segundos, escutei três tiros. E naquela rua não tão movimentada, com alguns camelôs no início, agora já não tinha mais nenhum. Havia gritos e as luzes dos apartamentos se acendendo pouco a pouco, como se indicasse algo mais que perigo. Talvez um espetáculo.
Já depois de outros segundos, viro-me. Estava o mais admirado homem estirado no chão, sangrando. Clamando com dificuldade para que o dia fosse bom, fechando calmamente os olhos.
Pra mim foi tão rápido vê-lo passar.
2 comentários:
O que comentar... Trágico, mas bem escrito... Não sei, desculpa se pareço frio.
Mais um funeral nessas ruas violentas do nosso cotidiano, haha.
Talvez o olhar dela tenha sido fatal, talvez tenha sido o destino, ou realmente a "alegria de pobre dura pouco".
Uma vez passei por uma garota no que eu saía de casa, e ficamos nos encarando, sem dizer uma palavra, até mesmo depois que ela cruzou minha frente, só paramos de nos olhar quando virei a esquina, mas de certa forma deve ter falecido logo depois, não a vi mais. Instantes que acontecem de forma tão veloz que nos fazem pensar, somos tão frágeis, qualquer coisa pode nos matar, o jeito é aproveitar os rápidos momentos de quando ainda estamos por aqui.
Muito bom o seu conto =)
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